Apesar de tantas conquistas históricas nos últimos tempos, ainda pesa sobre os ombros da mulher o fardo de, supostamente, “ser resistente à dor física". Esse mito faz com que muitas mulheres considerem normal sentir intensas dores durante o período menstrual e até mesmo no ato sexual. Mas esses quadros podem ser sintomas de endometriose, uma doença que, se não diagnosticada e tratada corretamente, pode fazer com que a mulher tenha bastante dificuldade para engravidar.
Aliás, segundo os especialistas, essa complicação é a principal causa de infertilidade feminina. O Dr. Alexandre Brandão, cirurgião ginecológico e especialista em laparoscopia ginecológica e endometriose, fala mais sobre o tema, a seguir.
O que é endometriose?
A endometriose é uma doença inflamatória que ocorre quando células do endométrio – tecido que reveste internamente o útero –, em lugar de serem expelidas na menstruação, fiquem acumuladas nos ovários ou na cavidade abdominal, onde começam a se multiplicar e a sangrar. A cada ciclo menstrual, as oscilações hormonais vão impulsionando esse crescimento desordenado, causando inflamações no útero e até mesmo nas trompas.
Por isso, quanto mais a doença demora para ser diagnosticada e tratada, mais quadros de dor intensa a mulher terá a cada menstruação e mais o endométrio vai se expandir pelo sistema reprodutor, causando inflamações e espalhando a lesão. Consequentemente, maiores serão as dificuldades para engravidar. “O quadro inflamatório da endometriose faz piorar a qualidade do óvulo e pode obstruir as trompas, impedindo a fecundação, por conta dos cistos formados (endometriomas). Em outros casos, mesmo quando ocorre a fecundação, caso a doença não esteja sob controle, ela impede a fixação do embrião na parede do útero (nidação)", completa o especialista.
Ele comenta, ainda, que a descoberta da endometriose não é recente. Porém, como a vida reprodutiva da mulher veio sofrendo diversas alterações ao longo da história, o prejuízo que a doença causa à fertilidade feminina pode ser, sim, considerado um fenômeno da história recente. “Há 30 anos, as mulheres engravidavam muito cedo, às vezes, bem antes dos 20 anos. Então, mesmo que uma mulher tivesse endometriose, a doença não tinha tempo de expandir tanto o processo inflamatório a ponto de dificultar a gravidez. Mas, hoje, como as mulheres tendem a engravidar mais tarde, a enfermidade pode estar em estágio avançado quando se começa a planejar uma gestação", explica o Dr. Alexandre.
Sintomas
Além da cólica incapacitante durante o período menstrual, outros sinais comuns da endometriose são:
▪ sangramento intestinal e urinário no período da menstruação;
▪ dor durante e após as relações sexuais;
▪ dificuldade de engravidar.
O Dr. Alexandre alerta que a endometriose deve ser a principal hipótese de investigação quando uma mulher tenta, por dois anos ou mais, engravidar e não consegue.
Como é feito o diagnóstico?
“A queixa de cólicas menstruais intensas e incapacitantes é comum em mais de 90% das mulheres com endometriose, mas é necessário investigar, por meio da realização de ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal feita por especialista, para dar o diagnóstico de endometriose", explica o médico. Ele reitera que em mulheres com menos de 25 anos, geralmente, as lesões não aparecem. Mas caso não haja contraindicação para tratamentos hormonais, a mulher pode iniciar a terapêutica para prevenir lesões e preservar a fertilidade.
Endometriose na gravidez: quais são os riscos?
A inflamação do útero e dos ovários e o surgimento dos cistos de endometriose (endometriomas) podem dificultar a ovulação ou até mesmo a fixação do embrião na parede do útero. No entanto, uma vez que a mulher consiga engravidar, apesar dessas intercorrências, a gestação costuma ocorrer como em qualquer outra mulher que não tenha endometriose.
É possível engravidar com endometriose?
Agora vem a boa notícia: sim, as mulheres com endometriose podem engravidar, no entanto, elas têm as chances diminuídas entre 5% e 10%. “Quem tem endometriose pode, inclusive, engravidar espontaneamente depois do controle da doença. Às vezes, somente o tratamento hormonal já pode ajudar; em outros casos, é necessária a realização de cirurgia ou até mesmo a associação desses tratamentos com técnicas de reprodução assistida", explica o Dr. Alexandre.
Qual o tratamento para a endometriose?
O tratamento da endometriose pode ser dividido em cirúrgico e clínico. A indicação da abordagem cirúrgica costuma ocorrer para as mulheres que apresentam infertilidade, falha no tratamento clínico, comprometimento no desempenho de alguns órgãos, por exemplo, ou quando a endometriose está obstruindo o ureter, o que prejudica o funcionamento da bexiga, e bloqueia o reto ou o intestino.
A cirurgia deve ser laparoscópica, ou seja, sem aquela abertura tradicional do abdome, ou robótica, que permite uma abordagem menos invasiva da área. Já o tratamento clínico pode ser orientado da seguinte forma:
▪ medicações para dor em casos específicos;
▪ abordagem hormonal para ter um controle do ciclo hormonal;
▪ cuidados com a alimentação, a saúde do corpo e a saúde mental e do sono.
O Dr. Alexandre reitera que os cuidados gerais com a saúde, como alimentação adequada e atenção à qualidade do sono, são essenciais para o controle da doença.
Cuidados especializados
A Maternidade Brasília dispõe do Instituto de Endometriose de Brasília, serviço especializado no tratamento dessa condição que conta com uma equipe multidisciplinar para realizar a avaliação médica com ginecologista e radiologista, que mapeiam a endometriose, além de proctologista e urologista para as cirurgias e o acompanhamento necessário. Além disso, oferece também suporte em fisioterapia, nutrição, psicologia e enfermagem especializada na área, que propicia cuidados especializados para as mulheres que enfrentam esse quadro. Para saber mais, clique aqui.