Apesar de a grande maioria das gestações ocorrer sem complicações ou intercorrências, um percentual menor de gestantes pode ter alguma condição de saúde preexistente ou durante a gravidez que aumente as chances de desenvolverem risco tanto para a mãe quanto para o bebê.
O Dr. Breno César Abreu Sena, ginecologista da Maternidade Brasília, explica o que é e como é identificada uma gravidez de risco.
Quando uma gravidez é considerada de alto risco?
Conforme explica o Dr. Breno César Abreu Sena, a gestação é considerada de alto risco “quando existem condições preexistentes ou incitadas pela gestação que elevem as chances de complicações ou do desenvolvimento de doenças em relação ao considerado habitual". Ou seja, são quadros de saúde prévios ou induzidos pela própria gestação que aumentam a incidência de complicações durante a gravidez ou o parto, sendo aconselhável, nesses casos, um acompanhamento especializado e até multidisciplinar, com o intuito de minimizar os riscos e proporcionar maior segurança ao binômio materno-fetal. Por isso é fundamental manter os exames de rotina femininos em dia.
O médico explica ainda que “se não houver nenhuma situação conhecida previamente como predisponente para o aumento de ameaças à saúde – como hipertensão, diabetes, obesidade e doenças maternas prévias –, em princípio, a gravidez é considerada como de risco habitual".
Ao longo do pré-natal, é necessário realizar o rastreamento de condições maternas ou fetais que necessitem de atenção especializada, por exemplo, más-formações fetais, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e outras situações que impliquem risco gestacional.
Sintomas de gravidez de risco
A gravidez por si só gera uma série de modificações consideradas fisiológicas ao organismo materno, e isso, invariavelmente, levará a sintomas que vão afetar, com intensidades diferentes, as gestantes, conforme a adaptação de cada organismo. Exemplo desses sintomas comuns são náuseas e vômitos mais prevalentes no início da gravidez; dores lombares mais comuns em gestações avançadas e sintomas do trato digestivo, como constipação intestinal, azia ou queimação.
No entanto, alguns sinais são sugestivos de alerta para a possibilidade de situações de risco:
- dor e dificuldade ao urinar;
- inchaço no corpo que não melhora com repouso e acomete as mãos e a face;
- sangramento vaginal volumoso, principalmente acompanhado de dor e enrijecimento abdominal intenso;
- contrações uterinas dolorosas e frequentes antes do período final da gravidez;
- elevação da pressão arterial;
- saída do líquido amniótico, principalmente em gestações prematuras;
- medidas de colo uterino que mostram encurtamento;
- crises convulsivas, principalmente sem antecedentes prévios de epilepsia;
- febre materna;
- prurido ou coceira que acomete as palmas das mãos e as plantas dos pés;
- batimentos cardíacos acelerados de forma repentina, associados à falta de ar importante.
Começar o acompanhamento pré-natal precocemente é fundamental para a detecção de condições que necessitam de boa condução médica a fim de proporcionar uma maternidade segura.
O Dr. Breno César Abreu Sena reforça, no entanto, que “os sintomas podem ser os mais diversos possíveis e variam de acordo com cada caso ou quadro clínico específico. Não existe um sintoma que seja determinante de gestação de alto risco. Cada indício deve ser avaliado em um contexto para se estabelecer se há conexão com alguma situação específica".
Fatores de risco
Os fatores que podem contribuir para uma gravidez de alto risco são condições que aumentam os índices de complicações e doenças na gestação. Para exemplificar, podemos elencar: hipertensão prévia; aumento de peso expressivo na gestação; passado de prematuridade; perdas gestacionais recorrentes; passado de diabetes melito e diabetes gestacional; múltiplas cirurgias anteriores; óbito fetal com gestação avançada de causa não especificada em gravidez prévia; obesidade materna; idade materna avançada; tumores e más-formações uterinas etc.
No entanto, algumas condições podem ser tratadas/controladas para minimizar danos, como compensação de doenças prévias e prevenção de condições recorrentes como diabetes gestacional, por meio de dieta e atividades físicas regulares ajustadas. No entanto, algumas condições não são previsíveis, e o bom acompanhamento pré-natal é a maneira mais adequada de diagnóstico precoce e condução adequada.
O que não fazer diante de uma gravidez de risco?
Na presença de uma situação suspeita ou conhecida de gravidez risco, deve-se procurar um profissional especializado e familiarizado com essas condições para que ele elabore um plano de condução dedicado a cada caso específico, com a mobilização de equipe multidisciplinar, a solicitação de exames e a programação de intervenções que se fizerem necessárias para o quadro específico.
Portanto, de acordo com o Dr. Breno César Abreu Sena, “depende exclusivamente da conjuntura que elevou o risco da gestação. Por exemplo, em pacientes com diabetes gestacional diagnosticada, deve-se evitar uma dieta rica em carboidratos simples e adotar um plano alimentar prescrito por um nutricionista especializado, bem como controlar o ganho de peso".
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Com quantas semanas passa o risco na gravidez?
Não existe um tempo específico ou marco gestacional em que a gestante esteja isenta de riscos. Mas algumas condições têm maior incidência de acometimento, por exemplo, os abortamentos são mais frequentes até as primeiras 12 semanas; o diabetes gestacional acontece, principalmente, no segundo trimestre, após a 24ª semana; a pré-eclâmpsia é um quadro hipertensivo que ocorre após a 20ª semana de gestação; enfim, cada condição tem um período mais frequente de incidência.
Diagnóstico e tratamento
Depois da avaliação médica e do diagnóstico de gravidez de risco, há uma grande possibilidade de condutas disponíveis para que se evitem consequências tanto para a gestante quanto para o bebê.
“O diagnóstico é realizado por meio do acompanhamento pré-natal especializado, com o auxílio de entrevista clínica, exame físico ou exames de rastreamento, e o tratamento é compatível com a condição clínica identificada", explica o médico.
No entanto, cada terapêutica adotada será avaliada pelo obstetra. O acompanhamento médico durante a gestação deverá ser constante para minimizar os riscos e proporcionar uma gravidez mais segura.
O Dr. Breno César Abreu Sena Para explica, ainda, que para a “condução de uma gestação de alto risco são necessários uma equipe multidisciplinar e um bom planejamento de condutas médicas, a fim de definir o melhor momento de intervir e interromper a gravidez se necessário".