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Gestação

6 minutos de leitura

Toda gravidez acima dos 35 anos é de risco?

Gestações tardias têm particularidades que você precisa saber
BR
Dr. Bruno Ramalho - Ginecologista Atualizado em 29/10/2024

Gestações tardias são consideradas gravidez de risco?

Sim, é verdade: diversos estudos já demonstraram que as mulheres que engravidam após os 35 anos enfrentam grandes riscos de complicações, tanto relativas ao parto, quanto ao bebê que está por vir. Mas, atenção: isso não significa que todas elas estão destinadas a terem problemas na gestação. Essa faixa etária é, simplesmente, a representação de um momento em que certos riscos se tornam mais prováveis e, portanto, mais dignos de discussão.

“A literatura atribui o termo ‘idade materna avançada’ àquelas que engravidam com mais de 35 anos. Hoje, com a tendência crescente da mulher moderna de adiar a maternidade, temos um número expressivo de mulheres deixando a gravidez para além daquela idade”, ressalta o Dr. Bruno Ramalho, ginecologista e especialista em Reprodução Humana que atua na Maternidade Brasília.

Diversos fatores têm influenciado nessa escolha, dentre eles o desejo de concluir níveis de ensino superior, a necessidade de crescer profissionalmente e estabelecer uma carreira, a existência de métodos anticoncepcionais mais eficazes, questões relativas à incerteza econômica ou habitacional, além de inúmeras mudanças sociais e culturais.

Quais são os principais riscos desse tipo de gestação tardia?

Anomalias cromossômicas

“À medida que a idade da mulher aumenta, espera-se um aumento da ocorrência de anomalias cromossômicas no bebê. Tecnicamente, usamos também chamá-las de aneuploidias, que são caracterizadas pelo aumento ou pela diminuição do número de cromossomos. Para exemplificar, para mulheres com 30 anos de idade, estima-se que sejam necessários 385 nascimentos para que um bebê venha com algum tipo de aneuploidia.

Aos 35 anos de idade, estima-se que alguma aneuploidia acometa 1 criança a cada 190 nascimentos. Ou seja, pode-se dizer que a chance de conceber uma criança com alguma anomalia cromossômica dobra dos 30 para os 35 anos”, comenta o Dr. Bruno. Entretanto, é importante notarmos que a chance sempre será aumentada em relação ao que se observa em mulheres mais jovens (risco relativo), mas isso não significa um risco absoluto alto. Usando o mesmo exemplo: em 190 crianças nascidas de mães aos 35 anos, uma será acometida e 189 não serão. “As aneuploidias, em geral, são problemas graves e, por isso, a maioria das gestações de fetos acometidos evoluem para perdas espontâneas. Uma das poucas exceções é a trissomia do cromossomo 21 (ou síndrome de Down), mais frequentemente compatível com a vida e, cada vez mais, com uma vida longeva. Falando em números, a chance aproximada de se ter um filho portador da síndrome de Down é de 1 a cada 380 aos 35 anos e de 1 a cada 100 aos 40 anos”, alerta o médico.

Aborto espontâneo

“Como citamos, a idade materna guarda relação direta com a chance de concepção de um bebê portador de aneuploidia e, na maior parte das vezes, essa gravidez evolui para o abortamento espontâneo. É uma ocorrência muito triste, mas, sem dúvida, uma providência da natureza para que aquela pessoa não venha ao mundo com sua saúde geneticamente comprometida”, explica o especialista.

Ele ainda ilustra o que acontece pela observação das representações gráficas das chances de gravidez e de aborto espontâneo em função da idade: “Enquanto a chance de gravidez cai progressivamente a partir dos 30 anos, a chance de aborto espontâneo sobe progressivamente. A queda da primeira e a subida da segunda tornam-se mais evidentes a partir dos 35 anos e, ainda mais, dos 37-38 anos de idade”.

Complicações nas condições de saúde da mãe ou ainda riscos de vida

“Não conheço profundamente as teorias que explicam (ou tentam explicar) a ligação entre a idade materna e as complicações obstétricas, mas é certo que existe uma associação com o aumento da mortalidade materna, assim como da doença hipertensiva, do diabetes e das doenças planetárias. No meu ponto de vista, a dificuldade está em sair da associação e chegar à relação de causa-efeito. Isso, penso, não temos, embora existam hipóteses óbvias”, pontua o Dr. Bruno.

O ginecologista ainda complementa dizendo que o aumento da mortalidade materna pode estar relacionado à presença de doenças prévias à gravidez, mas, até então, sem importância clínica. Afinal, problemas como síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, renais e autoimunes são observadas com maior frequência entre as mulheres grávidas de maior idade.

“Da mesma forma, em mulheres com idade avançada, principalmente depois dos 40, são mais frequentes tanto o descolamento prematuro da placenta normalmente inserida como a placenta prévia”, finaliza.

Necessidade de realizar uma cesariana

As probabilidades são maiores devido às taxas mais altas de partos múltiplos e complicações médicas – não é um fato obrigatório, a menos que seja clinicamente necessário.

“No que diz respeito ao parto, observa-se um aumento das indicações de cesariana à medida que aumenta a idade da gestante. Entretanto, entre essas mulheres, são muito frequentes as cesarianas com data marcada, por escolha da mulher ou sugestão do obstetra, sem que exista uma indicação obstétrica clara. Fato é que desconheço um motivo racional para desacreditar o parto natural simplesmente pela idade da gestante. E, no Brasil, com as taxas elevadas de cesariana a pedido, acho muito difícil estabelecer relação causal entre “idade materna avançada” e cesariana”, complementa o obstetra.

Quero engravidar e tenho mais de 35 anos. O que fazer?

Se você está planejando engravidar após os 35 anos, antes de qualquer coisa é preciso se consultar com o seu médico, para realizar um “check-up pré-concepção” o mais rápido possível. Um obstetra poderá te ajudar a encontrar vitaminas pré-natais e elaborar uma dieta específica para o seu caso, além de te alertar sobre quaisquer fatores ambientais que você deve evitar nos próximos nove meses.

Após essa faixa etária, existe sim a possibilidade de ter uma gestação tranquila e saudável, no entanto, é preciso que seja monitorada de perto, considerando todos os riscos genéticos que aparecem com mais frequência à medida que as mulheres envelhecem. Será importante realizar alguns exames pré-natais extras e, principalmente, fazer escolhas mais inteligentes e equilibradas, no que diz respeito ao seu estilo de vida. Aqui vão algumas sugestões valiosas:

  1. Antes mesmo de engravidar, procure ser o mais saudável possível.

  2. Priorize alimentos bastante nutritivos e variados, visando absorver todos os nutrientes que você precisa para uma gestação tranquila e feliz. Opte por frutas e vegetais, grãos inteiros, feijão, carnes magras e laticínios com baixo teor de gordura.

  3. Consulte um médico para a prescrição de ácido fólico, que ajuda a prevenir defeitos no tubo neural, como a espinha bífida (condição na qual o tecido sobre a medula espinhal do bebê não fecha) e anencefalia.

  4. Confira se todas as suas vacinas estão em dia e converse com seu médico sobre quais você precisa tomar. A imunização correta é um passo essencial para uma gravidez segura, evitando o desenvolvimento de doenças perigosas e potencialmente fatais, tanto na mãe quanto no neném.

  5. Abandone de vez o cigarro e o álcool: bebidas alcoólicas aumentam o risco do bebê de uma ampla gama de defeitos mentais e físicos, enquanto fumar aumenta a chance de o pequenino nascer abaixo do peso ideal, o que já seria mais comum em idade gestacional avançada. Não fumar também pode ajudar na prevenção à pré-eclâmpsia.

  6. Principalmente em casos de gravidez acima dos 35 anos é fundamental manter um peso corporal adequado. Afinal, mulheres que estão acima do peso quando engravidam têm maior probabilidade de desenvolver problemas durante a gravidez, como a diabetes gestacional e a hipertensão. O sobrepeso também pode resultar em diversos problemas com o trabalho de parto.

Acima de tudo, não deixe de lado os cuidados pré-natais regulares, assim, você incrementa as chances de ter uma gravidez segura e um bebê saudável. Você sabia que as primeiras 8 semanas da gestação são as mais importantes para o pleno desenvolvimento do neném que está por vir? Realize todos os exames necessários, esclareça as suas dúvidas sobre gravidez e parto com um especialista e busque aconselhamento e apoio para desfrutar da melhor forma possível desse momento tão especial!

Escrito por
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Dr. Bruno Ramalho

Ginecologista
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