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Pediatria

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Entenda a prematuridade

Prematuridade é um grave problema de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento
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Dra. Ana Amélia Meneses Fialho Moreira - Neonatologista Atualizado em 19/12/2019

A prematuridade é um grave problema de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento, por se tratar da causa mais importante de morte neonatal e a segunda causa principal de mortalidade em crianças menores de 5 anos.

Com quantas semanas o bebê é prematuro extremo?

É considerado prematuro, ou pré-termo, todo bebê que nasce com menos de 37 semanas de gestação, sendo prematuros precoces aqueles nascidos com menos de 34 semanas e tardios entre 34 e 37 semanas. Outra forma de classificar os prematuros é de prematuro extremo (menores de 27 semanas), prematuros moderados (entre 28 e 31 semanas) e leves (entre 32 e 36 semanas).

Os bebês nascidos prematuramente têm risco aumentado de adoecer e morrer em consequência do incompleto desenvolvimento dos órgãos e de sua maior suscetibilidade às infecções, estas agravadas pela manipulação a que são expostos e ao tempo prolongado em que permanecem nas unidades neonatais, podendo chegar até cerca de 4 meses em prematuros extremos (abaixo de 27 semanas de gestação).

As complicações mais graves dos prematuros são a hemorragia ventricular, displasia pulmonar e alteração de formação de retina, podendo evoluir com sequelas neurológicas, oftalmológicas ou pulmonares, quanto mais prematuro o bebê, maior o risco de complicações.

Estatística da prematuridade no Brasil e no mundo

Estudo de análise da prevalência de prematuridade em 184 países no ano de 2010 estimou o nascimento de aproximadamente 14,9 milhões de bebês prematuros, o que representa 11,1% dos nascidos vivos em todo o mundo, variando cerca de 5% em vários países europeus a 18% em alguns países africanos. Do total de nascimentos prematuros, mais da metade (60%) ocorreu no sul da Ásia e na África Subsaariana.

No Brasil, a partir da década e 1990, foram verificados avanços na atenção à saúde materno-infantil, embora ainda se observe aumento de nascimentos pré-termo. A pesquisa Nascer no Brasil identificou, em 2011, uma prevalência de prematuridade de 11,3% no país. Já estudo de correção de prevalência de nascimentos pré-termo no Brasil encontrou estimativas de 11,7 a 11,8% no triênio 2009-2011.

Fatores de risco: principais causas da prematuridade

Diversos fatores estão associados à prematuridade, destacando-se:

  • Idade materna menor que 20 anos ou maior que 40 anos;

  • Baixo nível socioeconômico;

  • Antecedente de parto pré-termo;

  • Estatura materna inferior a 1,52 metros;

  • Gestação gemelar;

  • Sangramento vaginal no 2º trimestre de gestação;

  • Amadurecimento cervical;

  • Aumento da atividade uterina antes da 29ª semana de gestação;

  • Hábito de fumar;

  • Estado nutricional;

  • Alteração de peso inadequado da mãe;

  • Infecções do trato urinário;

  • Exposição a substâncias tóxicas;

  • Ausência de pré-natal ou número reduzido de consultas.

Alguns desses eventos podem ser solucionados, portanto, devem ser investigados em todo pré-natal, considerando-se se seus fatores determinantes são corrigíveis, com o intuito de intervir na redução da morbimortalidade infantil.

Tratamento

Os avanços tecnológicos, em especial nas últimas duas décadas, propiciaram o aumento da sobrevida de prematuros com idade gestacional e peso cada vez menores, entretanto, a incidência de problemas relacionados ao neurodesenvolvimento e às desabilidades entre os sobreviventes continua sendo um desafio não só para os neonatologistas (pediatras especialistas em recém-nascidos), como para todos os profissionais envolvidos no cuidado desses bebês.

A análise das práticas assistenciais mostra importantes diferenças nas condutas obstétricas, com maior uso de estratégias para proteger as gestantes e o feto, uma delas, foi o aumento do uso de corticoide, que protege pulmão e cérebro dos fetos. Entre as práticas neonatais, tem havido menor número de intubação na sala de parto e maior uso de surfactante nas primeiras horas de vida, ambas relacionadas a menor morbidade.

A construção de planos de cuidados individualizados para cada prematuro faz parte de boas práticas clínicas, envolvendo uma equipe multidisciplinar na qual fazem parte neonatologistas, cardiologistas, técnicos de enfermagem, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais.

O cuidado com o ambiente físico, com diminuição de estímulos sonoros e visuais, agrupamento de cuidados, onde os profissionais tocam os recém-nascidos, ao mesmo tempo, para que o número de estímulos táteis no dia seja reduzido, também são importantes no cuidado desses prematuros.

Método Canguru

Não podemos deixar de citar o método canguru, que é uma das políticas de saúde instituída pelo Ministério da Saúde no contexto da humanização da assistência ao recém-nascido, cujos pilares são:

  • Acolhimento ao bebê e sua família;

  • Respeito as individualidades;

  • Promoção de vínculo;

  • Envolvimento dos pais nos cuidados;

  • Estímulo e suporte ao aleitamento materno;

  • Construção de redes de suporte.

O sucesso do tratamento de um prematuro não é determinado apenas pela sua sobrevida, mas também pela qualidade de vida que ele terá com sua família e pela construção de vínculos que irão garantir essa qualidade de vida. Nesse contexto, o atendimento individualizado e centrado no paciente, nas suas reações fisiológicas e no seu comportamento favorece a organização e a integração do sistema neurossensorial, melhorando o seu desenvolvimento.

A inserção da família nos cuidados é de fundamental importância para a garantia do vínculo e do aleitamento e para a formação da rede de apoio tão necessária para o suporte dos prematuros. Cada serviço deve estabelecer seus protocolos para que toda a equipe multidisciplinar, que cuida desses pequenos bebês, também possa agir de forma harmônica e integrada visando ao seu bem-estar.

Escrito por
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Dra. Ana Amélia Meneses Fialho Moreira

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